domingo, 10 de julho de 2011

Nasce um novo país: Sudão do Sul

JUBA - O Sudão do Sul tornou-se a mais nova nação do planeta quando os relógios no leste da África marcaram a zero hora de sábado, 9, início da noite desta sexta, 8, no Brasil.

A secessão formaliza-se após duas guerras civis que ceifaram milhões de vidas ao longo de cinco décadas. A fundação do Sudão do Sul divide em dois aquele que antes era o maior país africano.

Nas ruas de Juba, a capital do novo país, a população festejou.

Moradores dançavam e gritavam o nome de seu presidente, Salva Kiir. Um homem ajoelhou-se e beijou o chão enquanto um grupo de pessoas passava pela rua gritando "nós nunca vamos nos render". "Eu sou livre", comemorou Daniel Deng, um policial de 27 anos de idade.
Reconhecimento

Países que já reconheceram o Sudão do Sul:

África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Armênia, Austrália, Áustria, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estônia, Finlândia, Holanda, Índia, Israel, Jordânia, Kosovo (não reconhecido internacionalmente), Malauí, Nagorno-Karabakh (enclave na Armênia não reconhecido internacionalmente), Noruega, Quênia, Somalilândia (região autônoma da Somália não reconhecida internacionalmente como nação), Sudão, Suíça, Taiwan, Tunísia, Turquia, Uganda, Vietnã e Zâmbia.
Conselho de Segurança

Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm poder de veto, anunciaram que reconheceriam o Sudão do Sul: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
Blocos

A União Africana já declarou que reconhece o Sudão do Sul e acredita-se que a entrada do país no bloco deve acontecer sem problemas. No continente, apenas Líbia e Eritreia são contra a divisão (leia abaixo).



Contrários

Os líderes de pelo menos três países se declararam contrários à divisão que criou o Sudão do Sul. O presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, disse que se opõe à independência. O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, afirmou ser contrário à ideia de dividir o Sudão. E o líder da Líbia, Muamar Kadafi, que enfrenta revoltas populares e a tentativa de tirá-lo do poder, disse que a situação do Sudão do Sul "poderia passar a ser uma doença contagiosa que afetará toda a África".
Conflito
Abyei

Os governos do Sudão e do Sudão do Sul ainda negociam a definição do controle das reservas de petróleo. A maioria delas está no sul, perto da fronteira. O principal foco da disputa é a região fronteiriça de Abyei, onde em 2008 ocorreram confrontos armados. Analistas acreditam que novos embates em Abyei poderiam levar a um confronto generalizado. Veja fotos do local.
Petróleo

Responde por 85% das reservas sudanesas. Segundo acordo de independência com o Sudão asvendas de petróleo serão divididas por igual entre ambos os países.
Divisão administrativa

São 10 estados em três províncias:
Equatoria

Equatoria Central, Equatoria Oriental e Equatoria Ocidental
Bahr el-Ghazal

Bahr el-Ghazal do Norte, Bahr el-Ghazal, Lakes Ocidental e Warrap
Alto Nilo

Jonglei, Unity e Alto Nilo


O Sudão do Sul é o mais novo país do mundo, após ter oficializado sua independência em relação ao Sudão.

A separação foi definida em um referendo realizado em janeiro, quando 99% dos votantes apoiaram a divisão do país, marcado por conflitos sectários.

Entenda os fatores envolvidos na separação:

Por que a maioria dos cidadãos do sul quer um país independente?

Assim como no restante da África, as fronteiras do Sudão foram desenhadas por potências coloniais pouco preocupadas com as realidades étnicas e culturais da região.

Enquanto o Sudão do Sul tem uma paisagem repleta de selvas e pântanos, o norte é mais desértico.

A maioria da população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos étnicos, de maioria cristã ou animista.

Com o governo centralizado no norte, em Cartum, a população no sul se dizia discriminada e rejeitava tentativas de imposição da lei islâmica no país. Os dois lados lutaram entre si durante a maior parte de sua história.

O que acontece após a independência?

Agora é que começa o trabalho duro. Norte e sul ainda têm de chegar a um acordo em relação a temas como:

- Traçado da nova fronteira e como ela será controlada

- Como dividir a dívida do Sudão e os royalties do petróleo do novo país

- Que moeda será adotada pelo novo país

- Que direitos os sulistas terão no norte, e vice-versa

O Sudão do Sul está pronto para a independência?

A verdade nua e crua é: não.

Após viver anos em guerra e desdenhado pelo governo central, o novo país - que é maior do que Espanha e Portugal juntos - quase não tem estradas; também faltam escolas e serviços de saúde para a população de cerca de 8 milhões.

Apesar de seu potencial para a agricultura, 95% das receitas do novo país vêm do petróleo.

"A vida no Sudão do Sul provavelmente será precária nos anos futuros", disse à BBC o analista especializado em Sudão Douglas Johnson.

Os ex-rebeldes do grupo SPLM, que têm controlado a região desde 2005, ganharam alguma experiência em governabilidade e lucram com os poços de petróleo do sul sudanês. Também elaboraram planos ambiciosos para desenvolver suas cidades e realizaram um concurso para a composição do hino nacional.

Mas críticos dizem que, até agora, o grupo desperdiçou muito desse lucro em gastos militares, e pouco em medidas que aumentem o padrão de vida em uma das regiões mais pobres do mundo. Também há acusações de corrupção, autocracia e favorecimento tribal.

Alguns dizem que o SPLM é dominado por membros do maior grupo étnico do Sudão do Sul, os dinkas, acusados de ignorar as demandas de outras comunidades - em especial da segunda maior etnia da região, os nuer.

Um observador da situação sudanesa disse à BBC, em condição de anonimato, que "não me surpreenderia se o Sudão do Sul se tornasse uma nova Eritreia".

Em 1993, os eritreus votaram maciçamente em favor da independência da Etiópia. Atualmente, a Eritreia é considerada uma das nações mais opressivas do continente.

Como Cartum vê a independência do sul?

Nesta sexta-feira, o governo do presidente sudanês, Omar al-Bashir, reconheceu formalmente a independência da parte sul de seu país.

Mas, desde o referendo de janeiro, regiões na fronteira entre sul e norte, como Abyei e Kordofan do Sul, têm vivido uma onda de confrontos, levantando temores de uma nova guerra.

Os dois lados assinaram diversos acordos de paz, mas as tensões permanecem.

O SPLM acusa o governo sudanês de financiar rebeliões, para desestabilizar o Sudão do Sul, mas Cartum nega as acusações.

Ainda que o novo país esteja tentando forjar laços com países como Uganda e Quênia, manter boas relações com o vizinho do norte será crucial.

O que acontecerá com o norte?

A prioridade para Cartum, agora, é tentar manter para si o máximo de lucros originados da produção de petróleo do país.

Ao mesmo tempo em que a maioria dos poços fica no Sudão do Sul, o norte tem a maioria dos oleodutos que escoam o combustível para o mar Vermelho.

A fronteira entre o sul e o norte, rica em petróleo, ainda não foi demarcada, então existe a possibilidade de que ocorram disputas pelo controle dos poços.

No que diz respeito à vida dos cidadãos comuns, ambos os lados concordaram em permitir que todos os sudaneses - em especial os sulistas radicados em Cartum - escolham qual nacionalidade terão.

Mas os planos de Bashir de implementar uma rígida versão da sharia (a lei islâmica) no norte do país pode afugentar os sulistas da região. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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